31/08/2019




Matilde - Alfredo Chaves - ES



HISTORICO DA LINHA: O que mais tarde foi chamada "linha do litoral" foi construída por diversas companhias, em épocas diferentes, empresas que acabaram sendo incorporadas pela Leopoldina até a primeira década do século XX. O primeiro trecho, Niterói-Rio Bonito, foi entregue entre 1874 e 1880 pela Cia. Ferro-Carril Niteroiense, constituída em 1871, e depois absorvida pela Cia. E. F. Macaé a Campos. Em 1887, a Leopoldina comprou o trecho. A Macaé-Campos, por sua vez, havia constrtuído e entregue o trecho de Macaé a Campos entre 1874 e 1875. O trecho seguinte, Campos-Cachoeiro do Itapemirim, foi construído pela E. F. Carangola em 1877 e 1878; em 1890 essa empresa foi comprada pela E. F. Barão de Araruama, que no mesmo ano foi vendida à Leopoldina. O trecho até Vitória foi construído em parte pela E. F. Sul do Espírito Santo e vendido à Leopoldina em 1907. Em 1907, a Leopoldina construiu uma ponte sobre o rio Paraíba em Campos, unindo os dois trechos ao norte e ao sul do rio. A linha funciona até hoje para cargueiros e é operada pela FCA desde 1996. No início dos anos 1980 deixaram de circular os trens de passageiros que uniam Niterói e Rio de Janeiro a Vitória.

A ESTAÇÃO: A estação de Matilde foi inaugurada em 1910. Antes disso, existia ali outra estação, de nome Engenheiro Reeve do outro lado do rio Benevente, esta aberta em 1902 (ficava próxima à ponte da ferrovia sobre o rio) ainda pela E. F. Sul do Espírito Santo. Este nome foi depois transferido para uma estação do mesmo ramal, mas entre Espera Feliz e Coutinho.

A linha havia chegado aí e parado, em 1902. A Leopoldina retomou as obras com o objetivo de levar a linha até Cachoeiro do Itapemirim.

O livro do Patrimonio Cultural do ES, de 1991, dá a data de inauguração da estação como sendo 1910, com a presença do Presidente Nilo Peçanha.

"A época da greve dos operários da E. F. Vitória a Minas coincidiu com a retomada da ligação ferroviária Matilde-Cachoeiro de Itapemirim, pela Leopoldina (em 1907). A celebrada Estrada Sul do Espírito Santo, iniciativa do Governo Muniz Freire, com a finalidade de ligar Vitória a Cachoeiro, estancou em Matilde, quando da crise de 1900. Meu pai foi o primeiro tarefeiro admitido pelo famoso engenheiro Caetano Lopes, chefe da construção. Acampou à margem da ponte sobre o rio Benevente, que logo adiante, 500 metros talvez, se despeja em belíssimo salto de mais de sessenta metros de altura. Foi um sorriso em nossa angustiosa vida de garimpeiros. Depois do salto belíssimo, a paisagem que o rio descreve - erodindo espigões cobertos de quaresmeiras e samambaias, em contraste com o prateado das embaúbas, o verde escuro dos cafezais em pequenos talhões, o milharal em desordem, as casas de colonos de tanto em tanto, com seus telhados agudos ora de zinco, ora pintados a zarcão, ora de tabuinhas negras de caruncho, aquelas capelas devotas com sineiras em torres piramidais - empresta um bucolismo tranqüilo ao povoado que estacionara com a crise do café do fim do século e com a paralisação da construção da estrada de ferro. Dividia-se em Matilde Velha e Matilde Nova, onde por primeiro se localizaram os italianos, a uns três quilômetros acima da cachoeira. Matilde era distrito e centro de convergência de outros núcleos a nordeste. Meia dúzia de casas, igrejinha, venda, padaria, da qual Dona Matilde era a padeira.

A escola construída pelos colonos foi fechada pelo governo, que lá instalou a delegacia de polícia, porque a professora, coitada, lecionava em italiano. A Matilde Nova esboçou-se junto à ponte e à estação da estrada de ferro, que se chamava Engenheiro Reeve, em homenagem póstuma ao profissional inglês, tocaiado com dois tiros de espingarda. Vinha de Iriritimirim, última parada, na época, trazendo doze contos de réis para o pagamento dos operários. Ainda teve tempo de salvar o dinheiro, atirando a maleta numa ramada de espinhos arranha-gato. Eram poucos os moradores de Matilde Nova. O guarda-chaves, Seu Batistella, casado e com filhas, hospedava seu superior hierárquico, Pedro Sposito, agente da estação. A família de maior nomeada era a de Giacomo Provedel. Influente negociante e homem prestativo foi também Ângelo Modulo. Havia o armazém do Lisandro Nicoletti, comprador de café e grande proprietário, estabelecido em Vitória, cujo gerente, em Matilde, era o ferreiro mecânico Aurélio Mainardi. Certa vez Lisandro Nicoletti foi tocaiado por um bando e só escapou porque se fez de morto, depois de receber mais de dez tiros. Só perdeu o animal de sela.

Tempos depois tentaram saquear-lhe a casa de negócios. Não foi só o atentado ao engenheiro Reeve que perturbou o sossego da pacata colônia de italianos; oriundos de Treviso, Udine, Beluno e Cremona, chegados de 1880 a 1890, eram boa gente. O distrito contava 370 famílias e foi perturbado várias vezes por bandos de jagunços. De quando em quando os italianos se assustavam. Habitualmente moravam nos fundos de seus estabelecimentos comerciais e a peça mais importante era a cozinha, onde a família se movimentava. Enquanto as panelas, em meia fervura, cozinhavam as iguarias, as zelosas paronas tricotavam ou costuravam, com suas máquinas manuais, as roupas dos maridos e das crianças" (Luiz Serafim Derenzi, descrevendo o local da estação nos anos 1920; reproduzido de http://gazetaonline.globo.com/estacaocapixaba). 

Segundo também o mesmo livro, a desativação da mesma se deu nos anos 1980.

Hoje é patrimônio tombado pelo Estado. Nem por isso, deixava de estar totalmente abandonada e saqueada em 2007: "Detalhes do nome, só em um lado, o outro já foi arrancado; muro pichado, salão principal destruído, piso queimado, mato entrando no portão de carga, cobertura semi-destruida..." (Afonso Celso Gonçalves, agosto de 2007).Em 2014 já estava restaurada e servindo como centro cultural. 

Créditos: 
http://www.estacoesferroviarias.com.br/efl_rj_litoral/matilde.htm
e
http://gazetaonline.globo.com/estacaocapixaba

28/08/2019






“Flor sevilhana”



Ali-Salem-Rachid, rico senhor do Oriente,
Teve um dia, cativa, uma flor sevilhana.
Linda e altiva mulher, que o homem repelente
Conseguira raptar de estranha caravana.

“ - Tens o meu ouro, mulher!... disse-lhe o mouro insolente;
Serás no meu harém, a esposa e soberana.
Há, de a teus pés, curvada, a minha humilde gente
Render pomposo culto à graça castelhana”.

“ - Desdenho-vos, Senhor! Vossa oferta me humilha!...
Matai-me!... Hei de mostrar ao teu povo ignavo,
Com que altivez morre a mulher de Sevilha!...”

“ – Já estás livre, mulher! Perdoa meu agravo!...
Volta à terra feliz que te tem como filha,
Mas deixa que eu vá contigo como escravo!”

(Autor Desconhecido)