28/05/2007

“Almas dos poetas (Epitáfio)”

Aqui jaz um sonhador, um poeta,
Cuja alma, já do corpo desprendida,
Por entre as lápides vagueia inquieta,
Em lúgubres missões, além da vida.

À cata dos ideais malfadados
Persiste, mesmo após minha passagem...
E em vôos sombrios, bastante ousados:
Ela e meus restos... insólita viagem!...

Seguimos sobre as campas silenciosas,
Nessas buscas insanas e curiosas,
Ao longo das noites, todos os dias...

Pois são assim as almas dos poetas,
Serão sempre indomáveis, irrequietas:
Nem mesmo a morte as torna vazias!...
Conta e Tempo

Deus pede estrita conta de meu tempo
E eu vou, do meu tempo dar-lhe conta;
Mas, como dar, sem tempo, tanta conta,
Eu que gastei, sem conta, tanto tempo ?

Para dar minha conta feita a tempo,
O tempo me foi dado e não fiz conta;
Não quis, sobrando tempo, fazer conta,
Hoje quero acertar conta e não há tempo...

Oh! vós que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo;
Cuidai, enquanto é tempo, em vossa conta.

Pois aqueles que, sem conta, gastam tempo,
Quando o tempo chegar de prestar conta,
Chorarão, como eu, o não ter tempo.

Frei Antônio das Chagas(1631/1682)

04/05/2007

“Ditado”

Não te espantes, nunca, meu caro amigo,
Se num momento de felicidade,
Algo de estranho acontecer contigo:
De fazer versos, sentires vontade...

Se estando em casa, ou na mesa de um bar,
Receitares drogas, feito um doutor,
A alguém que se queixa de um mal-estar;
Que aos teus ouvidos reclama de dor...

Se algo que tu fazes, foge ao bom senso,
Jamais te assustes, fica sossegado;
Pensa que é normal, assim como eu penso...

Que, de poeta, de médico e de louco,
Segundo um velho, famoso ditado,
Sem exceção, todos temos um pouco!...