23/05/2009

“Eu e o meu espelho”
A contemplar o próprio rosto, desolado,
Às vezes fico horas frente ao meu espelho,
Hábito a que há bom tempo me aconselho,
Buscando nele um fugir desesperado.

Alguém me disse, certa vez, cheio de espanto;
"- Que estranho confidente, o próprio espelho!... Ora,
Pode ele compreender se você chora,
O mal que dentro se exaspera e aflige tanto?..."

Não sei como explicar um tal procedimento...
Pode, certamente, a outros olhos parecer,
Ilógico, insensato, e sem discernimento!

Que ele ao refletir meu rosto, com frieza,
Acata paciente as mágoas do meu ser,
Posso dizer aqui, no entanto, com certeza!
“Flores roubadas”
Saí por noites, em gélidas madrugadas,
Por trilhas ínvias e ruas, longas estradas;
De olores divinais, das mais profusas cores,
Andei só, pilhando jardins, roubando flores!

Para quando, ao raiar do dia, em mil desvelos,
Ornar do fascínio delas, os teus cabelos;
E depois contemplar-te, absorto, fremente,
Fina flor entre as flores, demoradamente!

Onírico delírio, pleno de loucuras!...
Vagar, roubando pra ti, as flores mais puras,
Fazer que o teu perfume e o delas se confundam!

Expor ao vento as essências, finas e olentes,
Que só teu corpo e essas flores guardam latentes,
Pois se a mais leve aura sopra, o ar inundam!